Grelina: resposta para a fisiopatologia da obesidade? - Parte 2

Considerando o que foi exposto no artigo anterior, podemos perceber uma estreita relação entre grelina e o estímulo de fome, algo que pode ser determinante no desenvolvimento da obesidade. De uma forma geral, o sistema neuroendócrino desempenha um papel regulatório executando as informações processadas pelo cérebro, que tem no núcleo arqueado (ARC) do hipotálamo a principal região de controle da fome.

 

Recentemente Lu et al. (2002) demonstraram que alguns neurônios do ARC hipotalâmico apresentavam receptores específicos para grelina (GHS-R), que ao serem excitados aumentavam a expressão de peptídeos orexigênicos, suprindo a liberação de peptídeos anorexigênicos (Cowley et al., 2003), proporcionando assim um ambiente favorável ao aumento do apetite. Corroborando com estes achados, Kamegai et al. (2001) observaram que injetando grelina nos ventrículos cerebrais de ratos, o consumo alimentar era estimulado. Ao realizar este procedimento de forma crônica, Nagaya et al. (2001) evidenciaram um aumento cumulativo na ingestão de alimentos e uma redução progressiva no gasto energético, promovendo incremento na massa corporal.

É observado um aumento nos níveis circulantes de grelina em humanos que iniciam as refeições em qualquer horário e sem disposição para comer, demonstrando uma resposta deste hormônio a ingesta alimentar (Cummings et al., 2004). Está bem descrito na literatura que os níveis de grelina no plasma aumentam imediatamente antes de cada refeição e retornam aos níveis basais após uma hora da ingesta (Cumming et al., 2001). De fato, os níveis de grelina e de fome se mostram positivamente relacionados. Além disso, a diminuição tardia do nível de grelina no plasma é proporcional a quantidade de calorias ingeridas, ou seja, a carga calórica de cada refeição tem papel fundamental na diminuição dos níveis de grelina circulantes (Callahan et al., 2004).

O nível glicêmico é um fator preponderante para controle dos níveis de grelina, quando a glicose é administrada oral ou intravenosamente a concentração deste metabólito diminui (Shiiya et al., 2002), o que mostra uma resposta imediata aos níveis glicêmicos. Tem sido demonstrado que uma refeição rica em proteínas pode baixar os níveis de grelina, sendo esse efeito menos potente que a glicose, porém mais prolongado (Erdmann et al., 2003). A concentração deste peptídeo também é sensível ao número e ao horário das refeições, diminuindo mediante a uma refeição rica em gordura (Greenmany et al., 2004). Estes estudos nos mostram que existe uma relação com o tipo de macronutrientes que é consumido, levando-nos a acreditar que as distribuições destes macronutrientes nas refeições são preponderantes para o controle do apetite. Em minha próxima coluna irei mostrar alguns resultados obtidos em nosso laboratório, relacionando treinamento físico, dietoterapia e regulação de grelina em sujeitos obesos. Até a próxima...

Leitura Complementar:

  • ERDMANN J,; LIPPL F,; SCHUSDZIARRA V. Differential effect of protein and fat on plasma ghrelin levels in man. Regul Pept 2003; 116 (13):101-7.
  • CALLAHAN DE,; PEPE MS,; BREEN PA,; MATTHYS CC,; WEIGLE DS. Postprandial suppression of plasma ghrelin level is proportional to ingested caloric load but does not predict intermeal interval in humans. J. Clin. Endocrinol. Metab 2004; 89:1319–1324.
  • GREENMANY,; GOLANIN N,; GILAD S,; YARON M,; LIMOR R,; STERN N. Ghrelin secretion is modulated in a nutrient- and gender-specific manner. Clin Endocrinol (Oxf) 2004; 60 (3):382-8.

Prof. Ms. André Luiz Lopes

Doutorando em Ciências do Movimento Humano - UFRGS