Grelina: resposta para a fisiopatologia da obesidade? - Parte 1

No fim da década de 90, uma descoberta trouxe novas perspectivas para quem trabalha com metabolismo. Um novo hormônio surgiu para tentar explicar as lacunas deixadas sobre os mecanismos envolvidos na obesidade. Os primeiros relatos sobre sua existência foram documentados por Bowers et al. (1980) em um estudo que buscava investigar o hormônio do crescimento (GH). Os autores observaram que a secreção do GH não era exercida somente pelo hormônio de liberação do hormônio do crescimento (GHRH), outro sinalizador estava envolvido neste processo, o qual foi denominado grelina.

Desde então, a ciência passou a investigar a participação da grelina em outras funções do organismo. Uma das primeiras descobertas foi que ela exercia influência direta na via de sinalização da fome, antagonizando a ação da leptina (Nakazato et al., 2001). A partir deste achado, os trabalhos passaram a investigar como a grelina era sintetizada e quais os mecanismos envolvidos na sua secreção (Ravussin et al., 2001; Sakata et al., 2002). De acordo com Date et al. (2000), a grelina é produzida e secretada principalmente no estômago em um tipo distinto de célula encontrada na mucosa estomacal. O pâncreas é outro órgão produtor deste hormônio, porém existem controvérsias a respeito de quais células fazem este papel. No duodeno, jejuno, íleo e cólon também foram encontradas células imunorreativas à grelina, sugerindo a participação destes tecidos na rota desse secretagogo. Estudos mais recentes indicam a presença de grelina no núcleo arqueado do hipotálamo, que é uma importante região controladora do apetite (Lu et al., 2002), em neurônios hipotalâmicos (Cowley, 2003) e em células da glândula pituitária, onde ela pode atuar na liberação do GH por via autócrina ou parácrina (Kojima, 2005). Sendo assim, tem sido demonstrado que a grelina está presente em diversas regiões do organismo, podendo apresentar diferentes formas de ação. Na figura abaixo é apresentado de forma esquemática a rota de liberação e as ações promovidas pela leptina e pela grelina no organismo humano.

Estruturalmente, a grelina é um peptídeo formado por 28 aminoácidos onde a terceira unidade denominada de Serina (ser3) está n-octanoilada. Isto é, ela apresenta uma variação que é determinante para ação no organismo. Estas variações são conhecidas como grelina acilada e grelina não acilada, que são respectivamente as formas ativa e inativa desta molécula. Mesmo havendo uma corrida por resultados e definições sobre este metabólito e sua regulação, ainda existem muitas possibilidades de trabalhos a serem realizados. Sendo assim, espero ter contribuído para introdução do assunto e que a partir de agora você tenha interesse em investigar mais sobre esse hormônio. Em minha próxima coluna, irei falar um pouco mais sobre as funções fisiológicas que este peptídeo desempenha. Até a próxima...

Leitura Complementar:

  • NAKAZATO, MURAKAMI N, DATE Y, KOJIMA M, MATSUO H, KANGAWA K, et al. A role for ghrelin in the central regulation of feeding. Nature 2001; 409 (6817):194-8.
  • RAVUSSINI E, TSCHOP M, MORALES S, BOUCHARD C, HEIMAN ML. Plasma ghrelin concentration and energy balance: overfeeding and negative energy balance studies in twins. J Clin Endocrinol Metab 2001; 86 (9):4547-51.
  • SAKATA I, NAKAMURA K, YAMAZAKI M, MATSUBARA M, HAYASHI Y, KANGAWA K, et al. Ghrelin-producing cells exist as two types of cells, closed- and opened-type cells, in the rat gastrointestinal tract. Peptides 2002; 23 (3):531-6.

Prof. Ms. André Luiz Lopes

Doutorando em Ciências do Movimento Humano - UFRGS